3ª Onda: Brasil

[LUW]

Imagino que todos aqui conhecem o que se chama de "Third Wave Coffee", uma mentalidade (atitude? filosofia?) onde o café passou a ser pensado do cafezal à xícara. Nessa dita 3ª onda houve mudanças em todo o processo, desde na colheita como comercialização do grão crú até os processos de torra e também na extração. Como já brinquei aqui, ficou trés chic tomar café coado, um método que lá fora não era muito considerado, mas agora está na moda.

Pois bem, essas ondas todas começaram nos EUA, e tal qual um tsunami atravessaram oceanos e chegaram em outros continentes. Considera-se que a 1ª Onda foi no século XIX ainda, quando surgiram as primeiras grandes marcas de café nos EUA - imaginem uma Damasco ou Pilão estadunidense naquela época. A 1ª Onda se extendeu até o pós-guerra estadunidense, nas décadas de 50 e 60 onde iníciou-se o chamado American Dream ou American way of life, com toda aquela babaquice que os EUA viraram a capital da humanidade que conhecemos muito bem. Nessa segunda onda surgiram outras marcas de café que começaram a se preocupar um pouco mais com a origem de seus produtos, como a Starbucks, e época onde surgiu a SCAA e todas as outras associações similares.

E então chegamos ao século XXI, quando começou-se a pensar em café orgânico e biosustentável, torra nórdica e ressurgimento de métodos de extração meio esquecidos e proliferação de métodos experimentais. É o café que tomamos hoje, em casa com V60, AP e Bacchi, e nas cafeterias com seus brew bars e grãos variados para o cliente escolher.

Lá fora foi assim, mas e aqui? Atualmente também temos acesso à micro-lotes de cafés que conseguimos comprar até pelo correio, e podemos fazer extração por uma dezena de métodos dentro de casa. Portanto, ao meu ver parece que realmente estamos na 3ª Onda. Mas passamos pela 1ª e 2ª antes? A impressão que tenho é que definitivamente o Brasil teve uma 1ª Onda antes até da respectiva estadunidense, e por incompetência governamental nunca chegamos na 2ª Onda. Ou se chegamos, foi mais uma marolinha, para então a partir de 2010 (um pouco antes?) podermos usufruir da dita 3ª Onda. Mas se for assim, então estamos na 2ª Onda então. Ou talvez Onda 2,5 .

Vou fazer mais um cafezório (Serra da Mantiqueira de novo) e já volto. Comentários?

[Jose Alexandre]

Faz sentido.

O ensei neto usa outros elementos como marco.

Tem um post sobre isso no coffe traveller.

[Rodrigoks]

http://coffeetraveler.net/cafeterias-da-terceira-onda-3rd-wave-coffee-shops/

[LUW]

Não conhecia esse artigo.

 

Interessante notar que ele está aplicando o conceito de ondas apenas às cafeterias. Isso foge ao conceito original quando foi proposto no início de 2000 nos EUA, mas nesse novo contexto fica fácil de ver as diferenças entre as fases.

 

Eu pessoalmente discordo de se olhar as eras sob esse prisma pois ele ignora completamente a indústria cafeeira na sua divisão das "ondas". Aqui no Brasil a nossa cultura de café é solidamente embasada no que a indústria e governo determinaram com mão de ferro basicamente até a década de 80, e é por isso que até hoje a grosso modo a população em geral considera que café bom é café forte, e nada mais.

[Rodrigoks]

Acho que isso inclui a população de qualquer lugar, LUW. Café especial é coisa de nicho.

Acho nossa terceira onda muito incipiente comparada aos EUA, p. ex., ainda mais considerando que somos produtores.

[LUW]

Incipiente? Mais para patética . Sabe onde no mundo se tem acesso a variedade de café BOM que poderíamos ter aqui na RBC? Em nenhum lugar.

O problema é que é pérolas aos porcos. Não estou falando mal do povo nã gosta de café bom, o problema é que de modo geral o nível de exigência do brasileiro é infâme. Não adianta, aqui impera a Lei de Gerson, para tudo, e não poderia ser diferente com café.