Colheita antecipada do café - solução ou criação de um problema?

[Anderson Sartori]

Bom dia,

 

Assistindo ao programa Globo Rural de hoje, 25/04/13, prestei atenção a uma reportagem sobre a colheita antecipada do café em algumas localidades no sul de MG. Para meu espanto, a utilização de produtos químicos (etileno), como informado na mesma, acelera a maturação e uniformidade dos grãos. Ora, hoje com a busca de uma agricultura sustentável, orgânica e biodinâmica, forçar a natureza a produzir por vias químicas e nocivas é um descaso. Que café teremos no mercado? E o solo dessas propriedades? O respeito com os ciclos de vida deveria ser colocado em primeiro lugar.

 

Matéria: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2013/04/colheita-antecipada-do-cafe-evita-concorrencia-com-mao-de-obra.html

 

Abraço,

Anderson

[Victor D.]

Eles já fazem isso com os morangos, para que não haja apenas colheita no inverno, ficam vermelhinhos por fora e verdes por dentro.

[Carneiro]

Informações mais técnicas sobre o produto (imagino que seja esse): http://www.grupocultivar.com.br/site/content/artigos/artigos.php?id=567. Veja que nas pesquisas feitas, se usado da forma correta e em situações com poucas floradas (que já é difícil), a bebida continuou mole. Mas se o cara já produz bebida dura mesmo, de repente assim ele evita o riado na produção dele. Ao mesmo tempo, saber se isso seria viável em cafés especiais (pontuações altas, sempre estritamente mole), só fazendo testes e provando.

 

Acho que o agricultor tem que investigar e tentar o que ele pode para viabilizar o negócio. Produzir orgânico não é fácil, temos pouco. Conheço um produtor que faz orgânico, tem resultados incríveis, mas tá quase falindo.

 

Ao mesmo tempo, aparece uma notícia sobre o governo estipular um preço mínimo para o café e muitos se revoltam... Produzir café quase impossível com preços baixos, independentemente da qualidade. Mas acho que a demanda só vai aumentar e teremos um crescimento da produção também, mas claro, com aumento de preços.

 

Márcio.

[Rodrigoks]

O etileno é um amadurecedor genérico, e existe naturalmente nas frutas. O uso mais comum é pra colher produtos verdes e amadurecê-los depois, a fim de não perder produção na cadeia de distribuição. Claro que mal utilizado é uma porcaria. No tomate, por exemplo, o efeito é bastante deletério para a qualidade do produto. Ele fica vermelhinho alguns milímetros abaixo da casca e o resto é verde, inviável fazer um molho decente com esses daí. Pelo menos dá pra reconhecer a diferença entre um maduro de verdade pelo tato. Pelo que sei, o etileno não é particularmente tóxico.

 

Quanto ao café, a utilidade é um pouco diferente, afinal o que nos chega não é o fruto. Acho que se for puder ser usado pra beneficiar o negócio do produtor como o Márcio falou, ou ainda puder melhorar a qualidade do fruto no caso dos dos especiais, o que depende de testes, não acho inválido nem problemático.

[Victor D.]

Informações mais técnicas sobre o produto (imagino que seja esse): http://www.grupocult...igos.php?id=567. Veja que nas pesquisas feitas, se usado da forma correta e em situações com poucas floradas (que já é difícil), a bebida continuou mole. Mas se o cara já produz bebida dura mesmo, de repente assim ele evita o riado na produção dele. Ao mesmo tempo, saber se isso seria viável em cafés especiais (pontuações altas, sempre estritamente mole), só fazendo testes e provando.

 

Acho que o agricultor tem que investigar e tentar o que ele pode para viabilizar o negócio. Produzir orgânico não é fácil, temos pouco. Conheço um produtor que faz orgânico, tem resultados incríveis, mas tá quase falindo.

 

Ao mesmo tempo, aparece uma notícia sobre o governo estipular um preço mínimo para o café e muitos se revoltam... Produzir café quase impossível com preços baixos, independentemente da qualidade. Mas acho que a demanda só vai aumentar e teremos um crescimento da produção também, mas claro, com aumento de preços.

 

Márcio.

Quanto ao preço, não é revolta com o aumento em si mas quanto à lógica (ou falta dela). Se o preço do café está caindo é porque está tendo menos procura, logo, se quer aumentar a demanda deve-se abaixar o preço. Ao aumentá-lo apenas diminui-se ainda mais a demanda, ou acham que o Sr. Ernesto vai pagar mais caro no café simplesmente pq alguém no governo decidiu que ele deve?

O Brasil está inserido em um mercado mundial e, quanto antes perceber isso, melhor.

[Carneiro]

A produção de café é cíclica e normalmente dá mais em um ano que em outro. Se em um ano a oferta é levemente maior e o preço despenca, esse valor pode quebrar muitos produtores ou desistimular essa produção. Aí o preço aumenta e se leva mais algum tempo para retomar a produção, e novamente uma excelente safra pode ferrar os menores pois o preço cai. Nesse esquema de livre comércio, por alguns anos (recentemente) a saca de café ficou num preço ridículo e muitos desistiram. Nem sempre é pouca demanda, mas ofertas de preços baixíssimos por países que ainda podem explorar a mão de obra e produzir a custos irrisórios.

 

Outros mecanismos existem, também governamentais - acho difícil a agricultura em geral sobreviver sem intervenções do Estado.

 

Márcio.

[Rodrigoks]

Outros mecanismos existem, também governamentais - acho difícil a agricultura em geral sobreviver sem intervenções do Estado.

 

Essa compreensão é fundamental. Sou natural de Cachoeira do Sul, "capital nacional do arroz". Até bem pouco, o arroz era a principal fonte de economia da cidade. Não sei se ainda é, hoje a soja está tomando (já tomou) um espaço cada vez maior na produção agrícola local.

 

O fato é que a produção agrícola de arroz é totalmente sazonal, e funciona exatamente da mesma maneira. Era muito comum o seguinte mecanismo: safras ruins, e os agricultores quebravam (especialmente os pequenos); safras excepcionais faziam o preço cair e os pequenos não recuperavam os prejuízos. Raramente acontecia uma safra boa o suficiente conjugada com bom preço pra salvar a economia local. Agricultura não é fácil, não, exceto talvez para os latifundiários, que sempre são um jeito de conseguir financiamentos a perder de vista com o governo.

[Victor D.]

Mas se eu não vender meu café, que diferença faz se não vendi por trezentos reais ou se não vendi por um milhão? Sei que estímulos tem que ser dados para os agricultores, só não acho que essa é uma forma inteligente de fazê-lo.

[Rodrigoks]

Não sei bem como funcionam essas decisões do governo, mas duvido que tenham sido tomadas sem pressão das bancadas ruralistas. Deve então beneficiar os agricultores de alguma forma, talvez no mercado interno. Talvez o Alexandre saiba qual a finalidade da medida.

[Carneiro]

Mas se eu não vender meu café, que diferença faz se não vendi por trezentos reais ou se não vendi por um milhão? Sei que estímulos tem que ser dados para os agricultores, só não acho que essa é uma forma inteligente de fazê-lo.

 

Mas não é assim, café estocado e preços baixos. Não tem sobrado café, mas o mercado tem seus preços flutuando por outros motivos além de oferta e demanda local. O que se propõe ali é algo como o salário mínimo na economia de um país, um valor para a saca ser viável.

[Alexandre Velloso]

Salve,

 

A estratégia governamental de manter estoques reguladores é prática comum a todas as nações produtoras de commodities e participantes da OMC. Melhor, a meu ver, que os subsídios ou barreiras tarifárias praticadas ou impostas por alguns países, como fazem os europeus e norte americanos.

 

Para o produtor que não conseguiu vender sua mercadoria pelo o preço que pretendia, o governo garantirá a compra pelo preço mínimo, supondo que esta operação permita ao produtor custear a produção e quitar seus compromissos. É bom notar que nenhum produtor gosta de vender seus produtos nestas circunstâncias, mas há ocasiões nas quais esta é a derradeira alternativa.

[Bernardo B]

No Brasil o governo já comprou cafe para queimar e já pagou ao agricultor para arrancar pés de cafe.

Teve um IBC que foi uma boa iniciativa, tanto quanto a Cobal, o IAC e tantos outros orgãos "especiais" e estoques reguladores, que inicialmente funcionaram bem mas depois desapareceram.

O problema não foi conceitual mas de gestão politiqueira, clientelismo, má administração, abusos e falta de recursos quando necessário ...

A utilização do poder para beneficio individual ou de grupos políticos ou econômicos, em detrimento do bem estar da população e um assunto tão antigo, triste e aparentemente sem solução que nem quero comentar por que me deprime demais ...

[Anderson Sartori]

Minha intenção com o post referente a matéria do Globo Rural foi chamar a atenção para aquilo que está disseminado na cultura de hoje: produtos aditivados (muitos artificiais) encontrados facilmente em qualquer esquina. Primo por um bom café como o pessoal aqui do fórum e muitos "cafeólatros" (existe essa palavra? ) respeitando a natureza em sua forma original, crua e as formas de vida e tudo que faz parte deste grande ciclo. Se este ciclo não girasse como uma roda, não teríamos a comida em nossa mesa. Meus cumprimentos a quem incentiva e cuida da Terra, através da agricultura orgânica e biodinâmica.

O governo tem feito a parte dele, tímida é verdade, mas é um passo que está sendo dado.

 

Abraço,

Anderson