Acho que o propósito inicial deste tópico era só o de apresentar uma tabela de águas. Para não diversificar muito um mesmo assunto (uso in natura, preparação especial e efeitos em ambos os casos) em múltiplos tópicos, vou dar uma breve - e genérica - pincelada do que pode ser "possivelmente" considerado um "consensual" ponto-de-partida, inclusive em solo tupiniquim. Por exemplo, quem vive e tomou por muitos anos cafés em regiões (e, ou, países) com água com muito cálcio, quando começa a temperar água não consegue (a Psicologia explica) se desvencilhar do cálcio, que segundo alguns estudos pode(ria) ser substituído com muito mais vantagens pelo Magnésio (tem gente que não gosta, inclusive o Ensei).
Num breve resumo, fruto de muita leitura, impressões e conclusões (opções) pessoais minhas, no momento, o que eu consegui apurar como estando dentro de um padrão razoável para águas comerciais (muita coisa conforme padrão SCAA para cupping) é o seguinte:
1) a água deve límpida e livre de odores (então pode ser filtrada, bem filtrada aliás), mas não destilada nem suavizada (puxando para neutra); 2) pH entre 6,5 a 7,5; 3) entre 125-175ppm (mg/L) de sólidos (o tal resíduo de evaporação nos rótulos), mas não menos que 100 (água leve demais ou neutra) nem mais que 250 (água muito dura), segundo o critério de dureza por partículas presentes na água; 4) Bicarbonato entre 30 e 70mg/L. O Bicarbonato tampona os ácidos ruins, mas não só os ruins, então não pode ter demais, se não ficará flat, sem brilho. Descobri que um conceito oficial (jargão cafeinado) de "brilho" na SCAA é referente especificamente à acidez, quanto eles falam que o café está brilhando é que principalmente a acidez está complexa, distintiva, com notas diferentes e claras presentes; 5) Magnésio (sal de epsom) entre 30 e 50 mg/L, é um grande favorecedor de aromas e sabores; 6) o cálcio é polêmico, pois sua presença define o outro fator de dureza da água (principalmente quando combinado com o magnésio, este em doses altas), e águas duras são problemáticas para extração de solúveis indesejáveis, mas há quem as prefira em certos países. Então evite água com mais de 20, tolere entre 10 e 20, o ideal é o mínimo possível até 10mg/L. Aqui no Brasil tendemos a ter água com muito bicarbonato e pouco cálcio, em geral.
Já passei este tipo de "receita", sem compromisso (é o que eu faria para mim mesmo, só isso), pro Rafa, Beto e Hélio, assim poupa o tempo deles em tirar fotos e me enviar para ajudá-los a escolher, não que eu me importe, mas é que agora já estão andando com suas próprias pernas, o que é sempre muito melhor para todos.
Existem as sempre excelentes recomendações do Ensei, algumas coisas batem outras não (isto é normal), mas aqui estou apresentando alguns números que começaram a surgir depois do estudo do Collonna-Dashwood que são um pouco posteriores às muitas coisas que o Ensei falou (num post da pagina anterior).
Esta água da foto, é quase neutra, tem pouco Bicarbonato e pouquíssimo Magnésio, pouco Cálcio (o que para mim tem sido bom), está abaixo do recomendado no quesito "Resíduo de Evaporação". Pode ser uma água boa para tomar, mas não tanto assim para fazer café. Aliás, na Semana do Café de Lorena, no workshop de Águas, duas das águas mais saborosas pra se tomar (Evain, e Panna se não me engano) foram as duas piores para extrair cafés, perderam até para a filtrada de torneira.
Dentre as que o Rafa citou ter usado, e pelas considerações acima, Nestlé (depende da fonte), Schin e Minalba estão realmente muito fora da "normalidade" (seja lá o que isto quer dizer) e só tenderiam a dar cafés piores mesmo, principalmente porque têm muito bicarbonato. No entanto, o Bicarbonato pode salvar alguns cafés naturalmente muito ácidos, mas vai matar (piorar em relação á agua filtrada de torneira), cafés com acidez média ou baixa. Aqui, de novo, o de sempre: sabendo como as coisas funcionam, vc vai saber escolher qual o tipo de água que funciona melhor com cada tipo de café.
Todas as águas comerciais que usei (por acaso, pois não sabia nada sobre águas) estavam "dentro da caixa" (dentro dos limites acima), e por isso sempre deram um café melhor extraído e melhor na xícara do que a água filtrada. A água daqui é muito boa, grande parte vem de fontes minerais, há meses o pH oscila entre 6,9 e 7,1, e meu filtro é muito bom também. Até a Águas da Prata (que está fora da caixa, no quesito bicarbonato) extraía muito bem (trazia mais óleos e mais doçura do que as outras) e salvou muito cafés, mas em alguns não foi a melhor.
Minha singela contribuição (opinião), baseada na minha experiência pessoal, e que, por isso mesmo, tem funcionado para mim.