O Grão Mestre de Torras (mudei a alcunha, já que ele não gostou da anterior: Grande Mestre) @Rodolfo M, tem razão: o TDS em si mesmo não quer dizer absolutamente nada.
Sempre fui criticado, com minhas medições de TDS e %Ext, por perseguir um café dentro da caixa de Extração (há dois anos decidi recusar-me a tomar café subextraído). Em que pese eu insistisse em afirmar o contrário, diziam que eu estava (somente) atrás de números, e não tentando obter o melhor resultado na xícara. O problema é que, em certa medida, ambas as coisas estão intimamente relacionadas, já que somente com altos níveis de extração é que se consegue trazer (ou trazer com maior intensidade) determinadas notas sutis e complexas que (ainda) estão no grão (se o tempo decorrido da torra, ou a própria torra, não mataram estas notas).
Apenas para relembrar o que disse várias vezes por aqui, já fiz extrações de um mesmo café com uma mesma BR numa cápsula Tostio na Nespresso (deu 24,5% de Extração) e na AeroPress (deu 19,5%), e o café da AP era incomparavelmente superior ao outro. Por quê?! porque a arte da Extração não consiste em extrair mais do café mas, sim, em extrair o máximo possível dos melhores solúveis e o mínimo possível dos piores.
Ainda não entendo de torra como torrefador (pois ainda não torro), mas justamente meu próximo passo agora será torrar meu próprio café, pois pra mim já estava mais do que evidente que existe uma correlação clara entre grau e perfil de torra com o método utilizado (de um lado coado, de baixa ou alta intensidade, isto faz diferença tb; de outro espresso), e - principalmente - com o nível de Extração. Esta talvez seja a 4ª onda: coffee geeks que preparem (desde a seleção de grãos, passando pela própria torra e preparação personalizada) para atender ao seu gosto pessoal. É como cozinhar, e optar por frequentar grandes restaurantes, ou se dedicar a fazer aquele prato master-chef que agrade especificamente ao seu paladar (e gosto, cada um tem o seu). Ou, num exemplo daqui do CdC, fazer seu próprio pão (ou pizza ou esfiha) com levain, ou sorvete, ou cerveja etc.
Tem um conhecido meu que começou a torrar (e muito bem) cafés, mas imagino que ele esteja com um grande dilema entre fazer (comercialmente) uma torra que traga tudo de sutil, exótico e complexo que um grão possa oferecer (entre clara ou moderadamente clara, no máximo média clara, conforme o grão) pois este tipo de torra (especialmente as mais claras) só vai funcionar se for para preparar um coado de baixa intensidade com alta extração (no sweet spot), o que talvez menos de 5% de iniciados (ou expertos) cafeinados costumam fazer (ou tentar fazer). Para a grande maioria (o que inclui profissionais da área), com preparações costumeiras (padrão, que podem ser sub ou hipo extraídas) o café vai parecer subdesenvolvido, com fortes notas herbais e florais, que não agradam a vasta maioria dos apreciadores de café, e, sob o ponto de vista comercial, a empreitada dele fracassaria.