Como eu sei que aqui tem um pessoal que aprecia restaurações e modificações de máquinas de espresso, resolvi fazer esse tópico, que estou enrolando há quase um ano pra escrever, e compartilhar de forma resumida as modificações que fiz nesta distinta senhora chamada Brasilia Lady.
Pra quem não conhece, a Lady é um modelo clássico de máquina caseira da marca italiana, fundada há quase 50 anos, chamada Brasilia (e não Brasília, que por coincidência é minha cidade natal), e fez algum sucesso na década de 90 e início dos anos 2000, junto com outro modelo, a Club, sua irmã um pouco menor, com a qual compartilha algumas peças internas. É uma máquina bastante robusta (e pesada), construída praticamente toda em metal, tanto sua carcaça externa como as peças internas. Possui um boiler de latão de 300ml (330ml sem a resistência dentro) e um grupo de 58mm (conjunto praticamente idênticos aos da Fiama Minibar e da Faema Family), além de uma válvula solenoide.
É uma máquina que compete de frente com a consagrada Rancilio Silvia, bem mais conhecida por aqui. Conversei com algumas pessoas com experiência nessa área ou que trabalham com máquinas e já fizeram comparações das duas lado a lado, ao que relataram uma ligeira preferência pelos espressos da Lady, ao compara-las ambas originais. A diferença de projeto entre as duas é que a Silvia possui o grupo deslocado do boiler, o que pode acabar funcionando como um radiador, caso não esteja muito bem aquecido, perdendo mais temperatura durante o shot, enquanto o grupo da Lady fica exatamente abaixo do boiler, proporcionando um aquecimento mais rápido. Outro ponto de vantagem é que a parte superior da carcaça da Lady, acima do boiler, tem perfurações que permitem a passagem livre de qualquer vapor formado e que venha a subir por dentro da máquia, ou seja, menos chances de oxidação interna na carcaça, algo que não é tão incomum de acontecer nas Silvias.
Enfim, peguei essa minha unidade na cor azul, praticamente toda original. A única melhoria que ela possuía era uma válvula OPV regulada em 8 bar de pressão máxima. Aparentemente foi bem cuidada pelos donos anteriores, e estava funcionando bem.
Originalmente ela trabalha com um termostato de extração que desliga a resistência a partir de 107º no boiler (no chuveiro fica sempre por volta de 10º a 11º abaixo) e com certeza deve passar dos 110º até parar o aquecimento e começar a cair. Ou seja, uma temperatura bem alta pra maioria das extrações, o que leva a necessidade dar flushs antes do shot para poder resfriá-la. Esse primeiro flush sempre saía vapor pelo chuveiro junto. Mas sabendo lidar com isso e "surfando" a temperatura, ela já tira bons espressos, só que a repetiblidade e a praticidade ficam um pouco prejudicadas.
Na questão de modificações e melhorias, comecei com a troca da gaxeta por uma nova, pois a que veio não estava vedando 100% o porta-filtro. Depois desmontei toda a máquina e abri o boiler para verificar seu estado interno, que surpreendentemente estava em ótima condição de limpeza. Descobri posteriormente que o "Cabeça", do "Garagem do Café", já havia feito uma limpeza e revisão nela.
Depois parti para a instalação do dimmer (testei 3 modelos diferentes até chegar no ideial), PID (modelo XMT-7100) e manômetro (o mesmo da Miicoffe Apex). Aproveitei que a máquina estava desmontada para colocar uma manta térmica em volta e em cima do boiler, o que ajuda na estabilidade térmica do conjunto, reduz o consumo de energia e diminui a irradiação de calor pras demais peças internas. Posteriormente troquei o chuveiro por outro novo de maior precisão (aparentemente é o mesmo modelo que serve nas Breville), o que melhorou a distribuição da queda de água. Fiz também a troca da ponta do bico vaporizador original de 2 furos por outro que possui um furo de tamanho variável, o que proporcionou um controle melhor da saída de vapor.
E mais recentemente fiz a instalação de manta acústica na parte interna da máquina, na tentativa de deixá-la mais silenciosa. Abafou um pouco o barulho, mas o resultado ainda não ficou do jeito que esperava. Peguei outras ideias para diminuir com mais eficiência o barulho e a ressonância da bomba, e devo testar logo.
Cheguei a cogitar pintá-la de outra cor quando estava desmontada, mas acabei resolvendo manter a originalidade dela. Então fiz apenas alguns pequenos retoques em pontos específicos que estavam arranhados ou desgastados com uma tinta de cor praticamente igual à original.
Com a instalação do PID finalizada e com alguns ajustes nos parâmetros, os testes de estabilidade térmica com um termômetro dentro do porta-filtro mostraram um resultado que considero excelente, com a temperatura real dentro do cesto variando de 1ºC a 2ºC (às vezes até menos que 1º) durante a extração, dependendo da temperatura inicial, do tempo do shot e da velocidade do fluxo de água. Ou seja, com essa estabilidade, devido à grande massa metálica do conjunto, aliado aos 300ml do boiler posicionado acima do grupo, e ao PID atuando logo cedo, as torras claras e cafés mais difíceis de extrair não são um problema pra Lady.
E hoje ela está assim, tirando ótimos espressos: