Eu acho que tem algumas coisas culturais também que a gente tem que colocar na discussão: o paladar médio do brasileiro e a culinária brasileira.
No meu trabalho tenho contato com muitos estrangeiros e é impressionante como todos eles comentam que os doces aqui são muito doces. Por exemplo, um alemão provou brigadeiro e não conseguiu terminar porque, segundo ele, já tava doendo a garganta de tão doce. A funcionária da padaria confirmou que era um brigadeiro de Nescau, quer dizer, em cima do leite condensado que já é dulcíssimo o pessoal coloca Nescau, que tem açúcar, e mete uma manteiga com sal que realça tudo. No outro dia fiz pra ele um brigadeiro com cacau em pó e ele adorou.
Eu mesmo nunca fui de doce e sempre tomei muito café, e se tem um horror que eu tenho na minha vida é que alguém me sirva café doce. É sempre muito doce! E no Brasil isso é normal. O paladar médio do brasileiro é muito adocicado: se não for um mel, o pessoal não gosta.
Por outro lado, temos também que ver que a culinária brasileira, apesar de diversa, não é sutil em nenhuma das suas vertentes. Por exemplo, sou do Sul do país, e por lá tomamos o chimarrão, que tem um gosto forte. O churrasco é gordurosíssimo, os doces são bombas. No norte a culinária local, muito baseada em tradições nativas, tem aipim, maracujá, urucum. No nordeste, acarajé, pirão, tudo muito apimentado e temperado. E por aí vai.
Aí vamos contrastar por exemplo com a culinária europeia, ou japonesa, em que os sabores são muito mais sutis e delicados. Pouco se usam as frutas, especialmente cítricas, porque não tem como dar fruta tipo morango ou laranja no frio norueguês e nem no clima mediterrâneo italiano meridional. No Japão, devido ao clima e a geografia montanhosa, pouco se planta; o que eles conseguem fazer vingar, que foi o arroz, eles misturaram com frutos do mar que numa ilha tem de monte. Fizera sushi com arroz, doce de arroz, bolo de arroz, vinho de arroz, até chá de arroz tem.
Então culturalmente mesmo o brasileiro não é acostumado a procurar sabores, processar a sensação. Os pratos são bem mais temperamentais e crus no Brasil, o que eu acho fenomenal mas não bate com a degustação apurada.