Pessoal, decidi criar este tópico para referências a passagens do café na literatura.
Particularmente, a passagem que mais me marcou nesse sentido foi uma do livro Amerika, romance de Kafka (inconcluso, como os demais). Claro, então nem se passava perto da concepção que temos hoje, de especialidade, mas justamente por isso temos aqui um paradigma concreto e marcante, o que talvez ajude a reforçar como este universo se insere em nossa vida hoje.
Nas aventuras labirínticas e tortuosas de Karl pela cidade moderna, num determinado momento ele se depara com um estudante trabalhador -- isto é, que divide seu dia entre essas duas atividades -- na sacada ao lado, de madrugada, com cadernos, livros e uma garrafa.
Como elemento da sempre notável e característica atmosfera do absurdo criada por Kafka, o estudante faz uso de garrafas enormes de café, de forma a ter energia para se desdobrar em vida tão atarefada. Parece que essa fragmentação e a sobreposição de papéis eram, inclusive, uma tendência moderna nova a estranhar a sensibilidade de então, até porque Kafka nunca pisou nos Estados Unidos.
De todo modo, em um dos momentos ele diz o quanto essa bebida era muito ruim.
Lembro-me de um professor meu de história econômica do Brasil dizendo, em tom de ironia, que as exportações do café brasileiro ao longo da intensificação da industrialização europeia não eram fruto do gosto sensorial dos europeus pela bebida, mas por mera imposição econômica e estratégia de impulsionar, talvez de maneira latente, a energia dos trabalhadores.
A questão histórica do queima do café brasileiro apareceu, por exemplo, em roteiro do Bertolt Brecht para filme de 1930':
Vale lembrar que, anteriormente, temos imagens bem mais românticas e anedóticas, como a do próprio Balzac, escritor francês, viciado em café, trazendo este para seu profícuo escrever.